O voto da ministra Cármen Lúcia, do Tribunal Superior Eleitoral, favorável à cassação do mandato do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, repercutiu intensamente no cenário político fluminense.
A decisão ocorreu poucos dias depois de uma megaoperação policial contra o Comando Vermelho, nas comunidades do Complexo do Alemão e da Penha, que resultou em mais de 100 mortos e dezenas de prisões.
A coincidência temporal entre os dois acontecimentos levantou questionamentos sobre uma possível retaliação política contra o governador, conhecido por adotar um discurso firme de combate ao crime organizado.
Poucos dias depois da operação, o processo que pede a cassação de Cláudio Castro voltou à pauta do TSE, trazendo novo foco de tensão ao Palácio Guanabara.
O processo julgado pela Corte eleitoral investiga supostas contratações irregulares feitas durante a campanha de 2022, envolvendo a Fundação Ceperj e a UERJ.
Na última semana, a ministra Cármen Lúcia votou pela cassação do mandato de Castro e de seu vice, Thiago Pampolha.
O caso ainda depende do voto dos demais ministros, mas já provocou abalos políticos significativos.
Para analistas, a proximidade entre a operação policial e o avanço do julgamento não passa despercebida.
O governador vinha sendo elogiado por setores conservadores pela ofensiva contra o tráfico, mas criticado por aliados de Brasília e organizações civis pelos supostos excessos das forças de segurança.
“O timing é politicamente sensível. A decisão do TSE ocorre logo após uma operação com enorme repercussão negativa internacional. Isso abre espaço para interpretações de que há um componente de pressão política envolvido”, avaliou o cientista político e pesquisador Bruno Paes Manso.
O processo no TSE tramita desde 2023 e se refere a fatos anteriores à ofensiva policial.
No entanto, a coincidência temporal reacendeu o debate sobre a relação entre política, justiça e segurança no estado.
O episódio revela, mais uma vez, o quanto o Rio de Janeiro vive uma intersecção delicada entre crime, poder e instituições.
De um lado, o governo estadual tenta demonstrar força diante das facções criminosas; de outro, enfrenta o escrutínio do Judiciário.
Independentemente do desfecho jurídico, o caso expõe uma tensão crônica: a linha tênue entre o enfrentamento legítimo ao crime e o uso político das ações de segurança pública; um equilíbrio que, no Rio, costuma ter consequências fatais.
Clauston Santos